Demally U N R E A C H A B L E
Quando você tem câncer, a primeira coisa que acontece é a pessoa sentir pena de você. E para qualquer pessoa com câncer, é a pior coisa que pode acontecer no mundo inteiro. Você não quer que as pessoas tenham pena, não quer que fiquem horas falando sobre como você tem que ter confiança que vai melhorar, que vai se curar e que vai viver bastante. Porque, honestamente, na maioria dos casos, não é isso que acontece. E você sabe perfeitamente disso.
Eu sou Allyson Brooke, estou a dois meses de completar dezoito anos, e minha mãe resolveu que eu estou deprimida. Não sei bem o porquê, afinal, não saia de casa, viver na cama e não falar com quase ninguém não é bem o que eu classifico como depressão. É apenas como eu vivo. Mas ela não pareceu entender assim. Atribuiu minha “DEPRESSÃO” ao meu câncer e, por isso, duas vezes por semana eu gastava uma tarde inteira num Grupo de Apoio para Pessoas com Câncer. YHEY! Que incrível! Eu podia imaginar mil modos diferentes de gastar minhas terças e sextas, como, por exemplo, ler e dormir. Não existe coisa melhor, na minha opinião, e na da maioria das pessoas, obviamente.
O incrível Grupo de Apoio começava às 13:30h e terminava às 18:00h. Eram 5 horas e meia ouvindo pessoas falando sobre seu câncer, seu tratamento, sua morte próxima. E minha mãe queria que eu saísse da depressão! Bom, pelo menos, ninguém era obrigado a falar, por isso eu ficava basicamente sentada lá escutando. Algumas pessoas que já tinham se livrado do câncer apareciam lá de vez em quando, para tentar nos dar apoio e dizer, estou parafraseando, mas quem se importa: “Eu estava morrendo, assim como vocês e agora estou vivo e quase em perfeita saúde, enquanto vocês continuam morrendo, mas eu estou aqui pra mostrar minha saúde adquirida. Aliás, as chances disso acontecer com vocês não são assim tão grandes, mas o grupo precisa ter uma meta de pessoas como eu pra falar com vocês.”
Eu tive um câncer na tireoide, mas, quando eu pensei que eu podia finalmente me livrar das radioterapias, eu apresentei uma metástase no pulmão. Que sorte a minha! Meus pulmões estão morrendo lentamente, dificultando minha respiração, mas, por sorte, ainda não era realmente necessário um cilindro de oxigênio comigo 24 horas por dia, apesar de eu ter quase certeza que não ia demorar muito para eu ter que carregar um ao meu lado para qualquer lugar que eu vá. Eu me canso facilmente, tendo que descansar a cada dez metros que ando, isso se consigo chegar tão longe, e não posso nem pensar em dormir completamente reta na cama, a menos que eu queira morrer sufocada.
Os médicos disseram que ainda não era necessário o cilindro, mas eu podia imaginar minha próxima consulta com alguém me ensinando a usá-lo em casa.
Bom, voltando ao Grupo de Apoio, graças à insistência da minha mãe, que inclusive quase chorou quando eu disse que não ia ir, eu estava lá gastando minha tarde de sexta-feira sentada em uma cadeira não muito confortável enquanto esperava o grupo começar. As reuniões eram na sala paroquial de uma igreja e, todos que fossem católicos, participavam da missa logo após o grupo. Por sorte, minha mãe nunca me obrigou a ir nisso. Não que eu não acreditasse em Deus, mas eu não estava assim tão feliz com ele também.
E não, isso não é estar em depressão. Afinal, a depressão não é por eu estar com câncer e não ter fôlego pra sair de casa e conversar com meus antigos amigos do colégio (sim, minha mãe me tirou do colégio também!), mas a depressão era um efeito de se estar morrendo. Mas...
A sala, relativamente grande, foi se enchendo aos poucos e Peter, o coordenador do grupo ia arrumando as cadeiras para formar um semi circulo, o que, devo admitir, era novo, já que nós sempre ficávamos em um circulo perfeitamente redondo. Mas não indaguei o motivo, afinal, nem queria estar ali.
Peter era um cara mais ou menos jovem, tinha 25 anos e tinha se livrado de um câncer de esôfago a uns 5 anos. Era um cara legal, religioso e que adorava conversar com todo mundo. O outro coordenador, que só aparecia nas terças, pois sextas à tarde ele trabalhava, tinha 34 anos e, vejam que sorte, teve um câncer no pênis, além de ter HPV, mas isso era para outro grupo que a igreja fornecia espaço: Grupo de Apoio às Pessoas com Doenças Sexualmente Transmissíveis. Eu me pergunto porque nomes tão grandes...
Enfim, logo todos que participavam do grupo regularmente chegaram, todos animados por estar ali, o que eu não entendia. Peter se posicionou na parte aberta do semi circulo e sorriu para nós.
“Boa tarde a todos, espero que tenham tido um ótimo almoço e que tenham conseguido ficar com ele no estômago.” Ele começou. Suas piadas eram sempre toscas, sim. Mesmo assim, algumas pessoas riram. “Hoje nós vamos ter uma reunião um pouco diferente.” Anunciou, parecendo mais animado que nunca. “Uma amiga minha ressaltou que as reuniões deveriam ser mais animadas e, apesar de eu pensar que já estão animadas do jeito que estão, eu dei uma chance para o que ela propôs. Creio que não foi bem isso que ela tinha em mente quando sugeriu que fosse mais animado, mas eu consegui convencê-la. Ela ainda não chegou, pois tem que atravessar a cidade de ônibus, mas ela me mandou uma mensagem que já estaria aqui. Então acho que podemos começar antes dela. Nome, idade, tipo de câncer.” Ele apontou para uma garota da cadeira da ponta direita e ela suspirou, antes de falar.
Essas apresentações eram desnecessárias, já que a maioria ia ali regularmente, quando não estava no hospital, ou se sentindo tão mal que mal podiam abrir os olhos. Mas mesmo assim eu me apresentei, com tanto ânimo que eu poderia fazer todos os times de futebol do Campeonato Brasileiro nem quererem sair de casa para ir ao jogo. Mas eu não entendo de futebol...
As apresentações terminaram com um garoto que, assim como eu, tinha câncer no pulmão. Ele carregava um carrinho com o cilindro de oxigênio e, mesmo assim, dizer aquelas poucas palavras eram quase impossível para ele.
Quando Peter olhou no relógio pela décima vez e foi tentar achar um assunto para o desaparecimento de sua suposta amiga, um grupo de pessoas entrou na sala, com os braços carregados de coisas. Eram cinco pessoas, entre 16 e 20 anos, no máximo, que sorriam para Peter.
“Vejo que trouxe a tropa inteira!” Peter brincou com a mulher que vinha na frente.
Ela sorriu, exibindo dentes brancos e covinhas fofas. “Bom, você me arrastou pra cá e eu não podia suportar isso sozinha.” Ela retrucou, colocando o que parecia um violão, estava com a capa, escorado na parede para apertar a mão dele.
Por algum momento eu me perdi na conversa e me concentrei nos seus olhos castanhos, com várias bolinhas verdes, seu rosto delicado, com algumas pintinhas pequenas, os cabelos castanhos escuros ondulados e um belo corpo. Ela usava um chapéu branco com uma faixa preta ao redor dele, uma camiseta branca e camisa xadrez vermelha e preta por cima, calça jeans preta e rasgada nos joelhos e um all star velho, além de algumas pulseirinhas indígenas nos dois pulsos, de várias cores e desenhos. O grupo que vinha atrás era composto por 3 garotos e outra garota. Dois dos garotos eram altos e pareciam frequentar bastante a academia, com os cabelos pretos meio grandes e ondulados, a diferença era o rosto e os olhos, do primeiro os olhos eram verdes, do outro eram pretos. O outro garoto era loiro, cabelo com bastante gel para deixar as pontas para cima, olhos castanhos e um sorriso meio idiota. A garota era morena, cabelos curtos, cortados até a altura do ombro e olhos castanhos claros.
Eu só voltei a mim quando Peter retornou a falar conosco. “Então, esta é a amiga da qual eu falei e ela trouxe nossos outros amigos. Estes são Shawn, Justin, Austin, Lauren e Demi.”
Então o nome dela é Demi... Interessante.
O cara dos olhos Claro era Shawn era lindo, devo admitir. O outro, dos olhos claros também, era Austin. E loiro Justin. E a outras menina era olhos verdes a Lauren. Eu me pergunto o motivo de estarem ali colocando várias coisas no chão.
“Demi, com sua incrível ideia de animar o ambiente, me deu a ideia de trazê-la para cantar um pouco na reunião.” Peter explicou. “Eles tem uma banda pequena que toca por diversão em barzinhos e festas quando têm vontade.”
Demi sorriu e revirou os olhos. “Obrigada por dar uma propagando tão boa!” Ela brincou. “Agora eles vão pensar que somos ricos e que fazemos isso só pra passar o tempo e que provavelmente não sabemos cantar direito. Agora estão pensando em sair correndo daqui.”
Shawn riu e concordou, enquanto tirava uma guitarra verde de dentro de uma capa que ele trazia nas costas. Austin, que estava absolutamente carregado de coisas, começou a tirar pedaços de uma bateria e a montar, enquanto Justin colocava um teclado no suporte.
Peter sorriu também. “Bom, nós já nos apresentamos, mas, se você quiser...” Ele disse.
Demi limpou a garganta teatralmente, enquanto o resto do grupo continuava montando instrumentos, ligando microfones e afins. “Boa tarde a todos, espero que não estejam odiando gastar a tarde de sua sexta-feira trancados aqui.” Estou começando a gostar dela. “Bem, me chamo Demi Lovato, mas podem me chamar de Demi, como a maioria das pessoas me chama, apesar de eu não ter certeza porque.”
“Você é impossível.” Shawn falou rapidamente.
Demi acenou com a cabeça. “Não concordo com isso, mas tudo bem. Eu tenho 19 anos e faz cinco anos que eu lido com um câncer, na verdade, um sarcoma, mais especificamente um rabdomiossarcoma alveolar nas minhas pernas e subindo.” Ela sorriu um pouco. “shawn é meu irmão, ele tem 18 anos e não tem câncer, por alguma graça divina a infelicidade caiu em mim. Poncho e Austin são nossos amigos a muito tempo, conhecemos eles na primeira série, são irmãos também. Justin tem 17 e Austin 19. E Lauren nos conheceu no ensino médio, tem 18 anos. Sou a única com câncer, vejam que alegria. Eu conheci Peter no hospital, no dia que fui realizar minha primeira cirurgia ele estava lá fazendo quimioterapia e conseguimos conversar um pouco. Quero que saibam que fui obrigada a vir aqui, por uma divida que tenho com Peter. E fiquem à vontade para pedir as músicas que quiserem que a gente toque pois não tivemos tempo de preparar nada, já que ele me ligou ontem me informando.”
Ela passou os olhos pelo grupo, que parecia muito mais animado agora, e seus olhos pousaram em mim, encarando meus olhos verdes acinzentados. Por alguns segundos ela só olhou pra mim, antes de sorrir largamente, mostrando suas covinhas, e se virar para Peter, falando algo brevemente, antes de se juntar aos seus amigos para ajudar a montar os instrumentos.
Devo admitir que as músicas eram boas, eles cantavam e tocavam muito bem e que eu me diverti, mas jamais admitiria isso para minha mãe. Eles tocaram tudo que a gente pedia, desde rock até samba, improvisando às vezes, já que não tinham todos os instrumentos necessários para tocar tudo que a gente queria. Austin tocava bateria, enquanto Justin tocava guitarra, Shawn tocava baixo, Lauren tocava teclado, e Demi cantava e, quando necessário, tocava violão. Demi fazia a segunda voz.
Eu fui a única que não pediu nenhuma música, enquanto todos continuaram pedindo por mais de uma hora. Quando Peter anunciou que seria a última música, Demi interrompeu todos os pedidos, que se misturavam e pouco dava para entender, e olhou para mim com um sorriso leve.
“Vamos deixar a senhorita Mau Humor decidir.” Ela declarou, apontando para mim.
Eu realmente lancei um olhar mortal para ela, ou eu esperava que fosse. Todos olharam para mim em expectativa, alguns sussurrando alguma música para eu pedir, entretanto, eu pedi a primeira coisa que veio na minha cabeça.”Live Forever.” Declarei baixinho. Eu não especifiquei mais do que isso, podia ser de qualquer banda existente na face da Terra que tivesse essa música, mas Demi parecia saber exatamente de qual música eu estava falando, porque sorriu e começou a tocar notas suaves no violão.
“Live Forever
Laughter is the only thing that'll keep you saneIn this world that's crying more and more everydayDon't let evil get you downIn this madness spinning round and round
I want you to live forever
Viver Para Sempre
O riso é a única coisa que vai te manter sãoNesse mundo que está chorando mais e mais todo diaNão deixe que o mal te derrubeNessa loucura que gira mais e maisEu quero que você viva para sempre
(Drew Holcomb and The Neighbors)
Não era a música mais alegre que existia e, com certeza, para quem estava com câncer parecia quase uma ironia, mas eu realmente adorava aquela música, por tantos motivos que eu mal podia começar a listá-los. E pareceu ficar ainda mais perfeito na voz melodiosa e suave de Demi.
Depois que ela terminou de tocar, sorriu e tirou o violão, colocando-o no chão com cuidado. Ela não disse nada, apenas pegou uma cadeira no fundo da sala e sentou na ponta do meio circulo. Os outros começaram a juntar os instrumentos, que parecia mais fácil do que montar e logo saíram.
“Fico feliz que decidiu se juntar à gente.” Peter declarou, sorrindo para Demi.
Ela deu de ombros. “Não é como se eu tivesse bilhões de coisas pra fazer, além de reclamar do quanto minha perna dói, acho que posso reclamar aqui com todos vocês.”
“Os remédios não fazem mais efeito?” Peter perguntou com a voz suave.
“Não realmente, meu médico decidiu mudar de remédio e ele, além de me dar sono, não ajuda com a dor. Nada que eu nunca tenha sentido antes.” Ela disse, balançando a mão como se não fosse nada.
O resto do Grupo de Apoio passou relativamente rápido comparado às outras vezes que eu participei e logo eu estava saindo da sala e indo para o estacionamento, onde não tinha sinal da minha mãe. Decidi esperar um pouco antes de ligar, já que ela estava em cima de mim 24 horas por dia e era bom respirar um pouco de ar fresco (encontre a pegadinha!).
Eu estava lá na frente fazia cinco minutos quando alguém limpou a garganta do meu lado. Eu olhei e lá estava ela, com as mãos nos bolsos da frente da calça e com o chapéu um pouco torto na cabeça. Foi quando notei que ela era um pouco mais alta que eu.
“Eu creio que cheguei atrasada na apresentação e ainda não sei o seu nome.” Comentou, como se não tivesse interessada. “O que é uma desvantagem, já que, obviamente, você sabe o meu.” Continuou, sorrindo um pouco.
“Ally Brooke.” Respondi rapidamente, voltando a olhar para a rua, querendo que minha mãe chegue logo, pois, por algum motivo, eu estava nervosa.
“Ally Brooke.” Ela repetiu, sorrindo abertamente agora. “Um nome estranho.” Disse depois, me olhando. “Perfeito para você.”
“Por que eu sou estranha?” Perguntei, sem olhar para ela.
“Sim.” Ela concordou, me fazendo olhar para ela de novo, um pouco surpresa.
“Suas técnicas de cantada são um tanto anormais.” Comentei.
Demi sorriu de novo, exibindo suas covinhas de novo. “Bom, não posso usar técnicas convencionais com uma garota que claramente não é. Você exige uma elaboração melhor.”
“Pois pode ir parando por ai.” Disse, olhando o carro de minha mãe que estacionava do outro lado da rua. Eu ia dar um passo para ir para lá quando senti que os olhos de Demi ainda estavam em mim. Eu me virei para olhá-la e franzi a testa. “POR QUE ESTÁ ME OLHANDO?” Perguntei finalmente.
“PORQUE VOCÊ É LINDA.” Ela disse simplesmente, dando de ombros. “E eu resolvi parar de me negar as coisas boas da vida apenas por parecer estranho ou um assédio.”
“É REALMENTE ESTRANHO.” Concordei.
“ENTÃO JÁ TEMOS ALGO EM COMUM.”
Cada palavra que ela dizia era um flerte comigo. Seu sorriso sedutor, suas covinhas fofas, sua voz suave e seus olhos que tinham um leve brilho divertido. Até seu cabelo parecia flertar comigo, com uma mecha ondulada caindo sobre seu belo rosto. Eu nem sabia que mulheres tinham esse efeito em mim. Caramba, eu não sabia quequalquer pessoa poderia ter esse efeito em mim. Por um momento, eu só queria sair correndo para o carro da minha mãe e sair de perto daquelas cantadas que me deixavam nervosa, o que não era nada bom, considerando que eu tenho um câncer pulmonar e eu não devia ter meu coração batendo mais rápido ainda.
“Parece que deixei a bela menina sem palavras.” Demi disse, provocando.
Eu bufei e me virei para começar a ir para o carro da minha mãe, que observava nós duas com atenção e um pequeno sorriso. Provavelmente estava feliz pensando que eu fazia amigos. No entanto, Demi começou a andar ao meu lado, mancando tão pouco que eu mal percebia. Na verdade, eu só percebi quando ela teve que descer o meio fio e estremeceu um pouco.
Eu dei a volta no carro e entrei no lado do passageiro, colocando o cinto rapidamente e querendo que minha mãe saísse dali o mais rápido possível. Entretanto, Demi parecia ter outra ideia. Ela se apoiou na janela do motorista, que minha mãe sempre mantinha aberta para conseguir me ver melhor quando ia me buscar de qualquer lugar que eu estivesse, e deu um de seus sorrisos para minha mãe, enquanto eu cruzava os braços e olhava para a rua com irritação.
“BOA TARDE, SENHORA.” Demi cumprimentou minha mãe, colocando a mão dentro do carro para apertar a dela.
Minha mãe apertou sua mão e sorriu também. “Me chame de Andrea. E você é...?”
“Demi Lovato. A senhora é a mãe de Allyson?” Demi pediu, olhando brevemente para mim.
Minha mãe sorriu de novo e me olhou também, antes de voltar seu olhar para a morena inclinada no carro (no meio da rua!). “Sou sim. E você é uma amiga dela?”
“A conheci hoje no grupo. Sou amiga de Peter e ele pediu pra eu vir hoje.” Ela deu de ombros. “Mas quanto à amiga da sua filha já não tenho certeza. Na verdade, eu queria pedir a senhora a permissão para levar sua filha em um encontro.”
Eu arregalei os olhos e olhei para Demi, que tinha o rosto impassível, com o mesmo sorriso torto. Minha mãe também parecia surpresa e me olhou, como se pedisse o que falar.
“O que você...” Eu comecei, pronta para dar um discurso sobre como ela devia procurar um psicólogo em breve.
“Tenho certeza que pode ser uma surpresa e tanto.” Demi me cortou, ainda olhando minha mãe, que voltou a olhar para ela. “Mas eu realmente gostei de sua filha, acho que eu poderia aproveitar essa noite para conhecê-la melhor e ver aonde isso vai dar. Prometo que se ela não quiser não apareço na frente dela nunca mais. Mas gostaria de pedir sua autorização antes.”
Minha mãe abriu e fechou a boca várias vezes, antes de suspirar. “Bom, eu não vejo problemas, contanto que a traga antes das 10.”
“Mãe!” Exclamei horrorizada.
“Você precisa sair um pouco, filha. E essa moça parece correta o bastante.”
“Eu não vou simplesmente sair! É um encontro! Com uma mulher!”
“É bom saber que sua visão não foi afetada. Assim você pode ver com clareza as flores que irei levar à sua casa quando te pegar às 7.” Demi falou, sorrindo alegremente.
“O que?! Mas eu não quero ir em um encontro com você!” Exclamei.
“Acho que você deveria me dar uma chance.” Demi falou, dando-me um sorriso sedutor. “Posso te surpreender.” Completou.
“Você já me surpreendeu com essa ideia maluca!” Disse.
“Isso é bom. Se já comecei surpreendendo.” Ela pegou seu celular e estendeu-o para mim. “Anote seu endereço no rascunho e eu passo lá às 7.” Eu me recusei a pegar o celular e ela levantou uma sobrancelha, se divertindo. “Eu posso pedir para sua mãe falar.” Ainda não me mexi. “Ok. Senhora Andrea, pode me passar seu endereço para que eu possa pegar sua filha às 7 e levá-la em um encontro?”
Minha mãe abriu a boca para falar, mas eu peguei o celular e anotei o endereço rapidamente. Por incrível que pareça eu anotei o endereço certo. Demi pegou o celular e leu o endereço em voz alta, apenas para confirmar que eu escrevera certo. Quando minha mãe confirmou, Demi endireitou o corpo, guardou o celular e sorriu de novo.
“Vejo vocês às 7.” E saiu, caminhando lentamente de volta para o salão da igreja.
Apenas uma breve explicação: A inspiração pra essa fanfic quando li a "A CULPA É DAS ESTRELAS", então há várias referências desse livro aqui. Quem não leu, recomendo que leia, pois o livro é perfeito.
Querem quer que eu continue?
Eu sou Allyson Brooke, estou a dois meses de completar dezoito anos, e minha mãe resolveu que eu estou deprimida. Não sei bem o porquê, afinal, não saia de casa, viver na cama e não falar com quase ninguém não é bem o que eu classifico como depressão. É apenas como eu vivo. Mas ela não pareceu entender assim. Atribuiu minha “DEPRESSÃO” ao meu câncer e, por isso, duas vezes por semana eu gastava uma tarde inteira num Grupo de Apoio para Pessoas com Câncer. YHEY! Que incrível! Eu podia imaginar mil modos diferentes de gastar minhas terças e sextas, como, por exemplo, ler e dormir. Não existe coisa melhor, na minha opinião, e na da maioria das pessoas, obviamente.
O incrível Grupo de Apoio começava às 13:30h e terminava às 18:00h. Eram 5 horas e meia ouvindo pessoas falando sobre seu câncer, seu tratamento, sua morte próxima. E minha mãe queria que eu saísse da depressão! Bom, pelo menos, ninguém era obrigado a falar, por isso eu ficava basicamente sentada lá escutando. Algumas pessoas que já tinham se livrado do câncer apareciam lá de vez em quando, para tentar nos dar apoio e dizer, estou parafraseando, mas quem se importa: “Eu estava morrendo, assim como vocês e agora estou vivo e quase em perfeita saúde, enquanto vocês continuam morrendo, mas eu estou aqui pra mostrar minha saúde adquirida. Aliás, as chances disso acontecer com vocês não são assim tão grandes, mas o grupo precisa ter uma meta de pessoas como eu pra falar com vocês.”
Eu tive um câncer na tireoide, mas, quando eu pensei que eu podia finalmente me livrar das radioterapias, eu apresentei uma metástase no pulmão. Que sorte a minha! Meus pulmões estão morrendo lentamente, dificultando minha respiração, mas, por sorte, ainda não era realmente necessário um cilindro de oxigênio comigo 24 horas por dia, apesar de eu ter quase certeza que não ia demorar muito para eu ter que carregar um ao meu lado para qualquer lugar que eu vá. Eu me canso facilmente, tendo que descansar a cada dez metros que ando, isso se consigo chegar tão longe, e não posso nem pensar em dormir completamente reta na cama, a menos que eu queira morrer sufocada.
Os médicos disseram que ainda não era necessário o cilindro, mas eu podia imaginar minha próxima consulta com alguém me ensinando a usá-lo em casa.
Bom, voltando ao Grupo de Apoio, graças à insistência da minha mãe, que inclusive quase chorou quando eu disse que não ia ir, eu estava lá gastando minha tarde de sexta-feira sentada em uma cadeira não muito confortável enquanto esperava o grupo começar. As reuniões eram na sala paroquial de uma igreja e, todos que fossem católicos, participavam da missa logo após o grupo. Por sorte, minha mãe nunca me obrigou a ir nisso. Não que eu não acreditasse em Deus, mas eu não estava assim tão feliz com ele também.
E não, isso não é estar em depressão. Afinal, a depressão não é por eu estar com câncer e não ter fôlego pra sair de casa e conversar com meus antigos amigos do colégio (sim, minha mãe me tirou do colégio também!), mas a depressão era um efeito de se estar morrendo. Mas...
A sala, relativamente grande, foi se enchendo aos poucos e Peter, o coordenador do grupo ia arrumando as cadeiras para formar um semi circulo, o que, devo admitir, era novo, já que nós sempre ficávamos em um circulo perfeitamente redondo. Mas não indaguei o motivo, afinal, nem queria estar ali.
Peter era um cara mais ou menos jovem, tinha 25 anos e tinha se livrado de um câncer de esôfago a uns 5 anos. Era um cara legal, religioso e que adorava conversar com todo mundo. O outro coordenador, que só aparecia nas terças, pois sextas à tarde ele trabalhava, tinha 34 anos e, vejam que sorte, teve um câncer no pênis, além de ter HPV, mas isso era para outro grupo que a igreja fornecia espaço: Grupo de Apoio às Pessoas com Doenças Sexualmente Transmissíveis. Eu me pergunto porque nomes tão grandes...
Enfim, logo todos que participavam do grupo regularmente chegaram, todos animados por estar ali, o que eu não entendia. Peter se posicionou na parte aberta do semi circulo e sorriu para nós.
“Boa tarde a todos, espero que tenham tido um ótimo almoço e que tenham conseguido ficar com ele no estômago.” Ele começou. Suas piadas eram sempre toscas, sim. Mesmo assim, algumas pessoas riram. “Hoje nós vamos ter uma reunião um pouco diferente.” Anunciou, parecendo mais animado que nunca. “Uma amiga minha ressaltou que as reuniões deveriam ser mais animadas e, apesar de eu pensar que já estão animadas do jeito que estão, eu dei uma chance para o que ela propôs. Creio que não foi bem isso que ela tinha em mente quando sugeriu que fosse mais animado, mas eu consegui convencê-la. Ela ainda não chegou, pois tem que atravessar a cidade de ônibus, mas ela me mandou uma mensagem que já estaria aqui. Então acho que podemos começar antes dela. Nome, idade, tipo de câncer.” Ele apontou para uma garota da cadeira da ponta direita e ela suspirou, antes de falar.
Essas apresentações eram desnecessárias, já que a maioria ia ali regularmente, quando não estava no hospital, ou se sentindo tão mal que mal podiam abrir os olhos. Mas mesmo assim eu me apresentei, com tanto ânimo que eu poderia fazer todos os times de futebol do Campeonato Brasileiro nem quererem sair de casa para ir ao jogo. Mas eu não entendo de futebol...
As apresentações terminaram com um garoto que, assim como eu, tinha câncer no pulmão. Ele carregava um carrinho com o cilindro de oxigênio e, mesmo assim, dizer aquelas poucas palavras eram quase impossível para ele.
Quando Peter olhou no relógio pela décima vez e foi tentar achar um assunto para o desaparecimento de sua suposta amiga, um grupo de pessoas entrou na sala, com os braços carregados de coisas. Eram cinco pessoas, entre 16 e 20 anos, no máximo, que sorriam para Peter.
“Vejo que trouxe a tropa inteira!” Peter brincou com a mulher que vinha na frente.
Ela sorriu, exibindo dentes brancos e covinhas fofas. “Bom, você me arrastou pra cá e eu não podia suportar isso sozinha.” Ela retrucou, colocando o que parecia um violão, estava com a capa, escorado na parede para apertar a mão dele.
Por algum momento eu me perdi na conversa e me concentrei nos seus olhos castanhos, com várias bolinhas verdes, seu rosto delicado, com algumas pintinhas pequenas, os cabelos castanhos escuros ondulados e um belo corpo. Ela usava um chapéu branco com uma faixa preta ao redor dele, uma camiseta branca e camisa xadrez vermelha e preta por cima, calça jeans preta e rasgada nos joelhos e um all star velho, além de algumas pulseirinhas indígenas nos dois pulsos, de várias cores e desenhos. O grupo que vinha atrás era composto por 3 garotos e outra garota. Dois dos garotos eram altos e pareciam frequentar bastante a academia, com os cabelos pretos meio grandes e ondulados, a diferença era o rosto e os olhos, do primeiro os olhos eram verdes, do outro eram pretos. O outro garoto era loiro, cabelo com bastante gel para deixar as pontas para cima, olhos castanhos e um sorriso meio idiota. A garota era morena, cabelos curtos, cortados até a altura do ombro e olhos castanhos claros.
Eu só voltei a mim quando Peter retornou a falar conosco. “Então, esta é a amiga da qual eu falei e ela trouxe nossos outros amigos. Estes são Shawn, Justin, Austin, Lauren e Demi.”
Então o nome dela é Demi... Interessante.
O cara dos olhos Claro era Shawn era lindo, devo admitir. O outro, dos olhos claros também, era Austin. E loiro Justin. E a outras menina era olhos verdes a Lauren. Eu me pergunto o motivo de estarem ali colocando várias coisas no chão.
“Demi, com sua incrível ideia de animar o ambiente, me deu a ideia de trazê-la para cantar um pouco na reunião.” Peter explicou. “Eles tem uma banda pequena que toca por diversão em barzinhos e festas quando têm vontade.”
Demi sorriu e revirou os olhos. “Obrigada por dar uma propagando tão boa!” Ela brincou. “Agora eles vão pensar que somos ricos e que fazemos isso só pra passar o tempo e que provavelmente não sabemos cantar direito. Agora estão pensando em sair correndo daqui.”
Shawn riu e concordou, enquanto tirava uma guitarra verde de dentro de uma capa que ele trazia nas costas. Austin, que estava absolutamente carregado de coisas, começou a tirar pedaços de uma bateria e a montar, enquanto Justin colocava um teclado no suporte.
Peter sorriu também. “Bom, nós já nos apresentamos, mas, se você quiser...” Ele disse.
Demi limpou a garganta teatralmente, enquanto o resto do grupo continuava montando instrumentos, ligando microfones e afins. “Boa tarde a todos, espero que não estejam odiando gastar a tarde de sua sexta-feira trancados aqui.” Estou começando a gostar dela. “Bem, me chamo Demi Lovato, mas podem me chamar de Demi, como a maioria das pessoas me chama, apesar de eu não ter certeza porque.”
“Você é impossível.” Shawn falou rapidamente.
Demi acenou com a cabeça. “Não concordo com isso, mas tudo bem. Eu tenho 19 anos e faz cinco anos que eu lido com um câncer, na verdade, um sarcoma, mais especificamente um rabdomiossarcoma alveolar nas minhas pernas e subindo.” Ela sorriu um pouco. “shawn é meu irmão, ele tem 18 anos e não tem câncer, por alguma graça divina a infelicidade caiu em mim. Poncho e Austin são nossos amigos a muito tempo, conhecemos eles na primeira série, são irmãos também. Justin tem 17 e Austin 19. E Lauren nos conheceu no ensino médio, tem 18 anos. Sou a única com câncer, vejam que alegria. Eu conheci Peter no hospital, no dia que fui realizar minha primeira cirurgia ele estava lá fazendo quimioterapia e conseguimos conversar um pouco. Quero que saibam que fui obrigada a vir aqui, por uma divida que tenho com Peter. E fiquem à vontade para pedir as músicas que quiserem que a gente toque pois não tivemos tempo de preparar nada, já que ele me ligou ontem me informando.”
Ela passou os olhos pelo grupo, que parecia muito mais animado agora, e seus olhos pousaram em mim, encarando meus olhos verdes acinzentados. Por alguns segundos ela só olhou pra mim, antes de sorrir largamente, mostrando suas covinhas, e se virar para Peter, falando algo brevemente, antes de se juntar aos seus amigos para ajudar a montar os instrumentos.
Devo admitir que as músicas eram boas, eles cantavam e tocavam muito bem e que eu me diverti, mas jamais admitiria isso para minha mãe. Eles tocaram tudo que a gente pedia, desde rock até samba, improvisando às vezes, já que não tinham todos os instrumentos necessários para tocar tudo que a gente queria. Austin tocava bateria, enquanto Justin tocava guitarra, Shawn tocava baixo, Lauren tocava teclado, e Demi cantava e, quando necessário, tocava violão. Demi fazia a segunda voz.
Eu fui a única que não pediu nenhuma música, enquanto todos continuaram pedindo por mais de uma hora. Quando Peter anunciou que seria a última música, Demi interrompeu todos os pedidos, que se misturavam e pouco dava para entender, e olhou para mim com um sorriso leve.
“Vamos deixar a senhorita Mau Humor decidir.” Ela declarou, apontando para mim.
Eu realmente lancei um olhar mortal para ela, ou eu esperava que fosse. Todos olharam para mim em expectativa, alguns sussurrando alguma música para eu pedir, entretanto, eu pedi a primeira coisa que veio na minha cabeça.”Live Forever.” Declarei baixinho. Eu não especifiquei mais do que isso, podia ser de qualquer banda existente na face da Terra que tivesse essa música, mas Demi parecia saber exatamente de qual música eu estava falando, porque sorriu e começou a tocar notas suaves no violão.
“Live Forever
Laughter is the only thing that'll keep you saneIn this world that's crying more and more everydayDon't let evil get you downIn this madness spinning round and round
I want you to live forever
Viver Para Sempre
O riso é a única coisa que vai te manter sãoNesse mundo que está chorando mais e mais todo diaNão deixe que o mal te derrubeNessa loucura que gira mais e maisEu quero que você viva para sempre
(Drew Holcomb and The Neighbors)
Não era a música mais alegre que existia e, com certeza, para quem estava com câncer parecia quase uma ironia, mas eu realmente adorava aquela música, por tantos motivos que eu mal podia começar a listá-los. E pareceu ficar ainda mais perfeito na voz melodiosa e suave de Demi.
Depois que ela terminou de tocar, sorriu e tirou o violão, colocando-o no chão com cuidado. Ela não disse nada, apenas pegou uma cadeira no fundo da sala e sentou na ponta do meio circulo. Os outros começaram a juntar os instrumentos, que parecia mais fácil do que montar e logo saíram.
“Fico feliz que decidiu se juntar à gente.” Peter declarou, sorrindo para Demi.
Ela deu de ombros. “Não é como se eu tivesse bilhões de coisas pra fazer, além de reclamar do quanto minha perna dói, acho que posso reclamar aqui com todos vocês.”
“Os remédios não fazem mais efeito?” Peter perguntou com a voz suave.
“Não realmente, meu médico decidiu mudar de remédio e ele, além de me dar sono, não ajuda com a dor. Nada que eu nunca tenha sentido antes.” Ela disse, balançando a mão como se não fosse nada.
O resto do Grupo de Apoio passou relativamente rápido comparado às outras vezes que eu participei e logo eu estava saindo da sala e indo para o estacionamento, onde não tinha sinal da minha mãe. Decidi esperar um pouco antes de ligar, já que ela estava em cima de mim 24 horas por dia e era bom respirar um pouco de ar fresco (encontre a pegadinha!).
Eu estava lá na frente fazia cinco minutos quando alguém limpou a garganta do meu lado. Eu olhei e lá estava ela, com as mãos nos bolsos da frente da calça e com o chapéu um pouco torto na cabeça. Foi quando notei que ela era um pouco mais alta que eu.
“Eu creio que cheguei atrasada na apresentação e ainda não sei o seu nome.” Comentou, como se não tivesse interessada. “O que é uma desvantagem, já que, obviamente, você sabe o meu.” Continuou, sorrindo um pouco.
“Ally Brooke.” Respondi rapidamente, voltando a olhar para a rua, querendo que minha mãe chegue logo, pois, por algum motivo, eu estava nervosa.
“Ally Brooke.” Ela repetiu, sorrindo abertamente agora. “Um nome estranho.” Disse depois, me olhando. “Perfeito para você.”
“Por que eu sou estranha?” Perguntei, sem olhar para ela.
“Sim.” Ela concordou, me fazendo olhar para ela de novo, um pouco surpresa.
“Suas técnicas de cantada são um tanto anormais.” Comentei.
Demi sorriu de novo, exibindo suas covinhas de novo. “Bom, não posso usar técnicas convencionais com uma garota que claramente não é. Você exige uma elaboração melhor.”
“Pois pode ir parando por ai.” Disse, olhando o carro de minha mãe que estacionava do outro lado da rua. Eu ia dar um passo para ir para lá quando senti que os olhos de Demi ainda estavam em mim. Eu me virei para olhá-la e franzi a testa. “POR QUE ESTÁ ME OLHANDO?” Perguntei finalmente.
“PORQUE VOCÊ É LINDA.” Ela disse simplesmente, dando de ombros. “E eu resolvi parar de me negar as coisas boas da vida apenas por parecer estranho ou um assédio.”
“É REALMENTE ESTRANHO.” Concordei.
“ENTÃO JÁ TEMOS ALGO EM COMUM.”
Cada palavra que ela dizia era um flerte comigo. Seu sorriso sedutor, suas covinhas fofas, sua voz suave e seus olhos que tinham um leve brilho divertido. Até seu cabelo parecia flertar comigo, com uma mecha ondulada caindo sobre seu belo rosto. Eu nem sabia que mulheres tinham esse efeito em mim. Caramba, eu não sabia quequalquer pessoa poderia ter esse efeito em mim. Por um momento, eu só queria sair correndo para o carro da minha mãe e sair de perto daquelas cantadas que me deixavam nervosa, o que não era nada bom, considerando que eu tenho um câncer pulmonar e eu não devia ter meu coração batendo mais rápido ainda.
“Parece que deixei a bela menina sem palavras.” Demi disse, provocando.
Eu bufei e me virei para começar a ir para o carro da minha mãe, que observava nós duas com atenção e um pequeno sorriso. Provavelmente estava feliz pensando que eu fazia amigos. No entanto, Demi começou a andar ao meu lado, mancando tão pouco que eu mal percebia. Na verdade, eu só percebi quando ela teve que descer o meio fio e estremeceu um pouco.
Eu dei a volta no carro e entrei no lado do passageiro, colocando o cinto rapidamente e querendo que minha mãe saísse dali o mais rápido possível. Entretanto, Demi parecia ter outra ideia. Ela se apoiou na janela do motorista, que minha mãe sempre mantinha aberta para conseguir me ver melhor quando ia me buscar de qualquer lugar que eu estivesse, e deu um de seus sorrisos para minha mãe, enquanto eu cruzava os braços e olhava para a rua com irritação.
“BOA TARDE, SENHORA.” Demi cumprimentou minha mãe, colocando a mão dentro do carro para apertar a dela.
Minha mãe apertou sua mão e sorriu também. “Me chame de Andrea. E você é...?”
“Demi Lovato. A senhora é a mãe de Allyson?” Demi pediu, olhando brevemente para mim.
Minha mãe sorriu de novo e me olhou também, antes de voltar seu olhar para a morena inclinada no carro (no meio da rua!). “Sou sim. E você é uma amiga dela?”
“A conheci hoje no grupo. Sou amiga de Peter e ele pediu pra eu vir hoje.” Ela deu de ombros. “Mas quanto à amiga da sua filha já não tenho certeza. Na verdade, eu queria pedir a senhora a permissão para levar sua filha em um encontro.”
Eu arregalei os olhos e olhei para Demi, que tinha o rosto impassível, com o mesmo sorriso torto. Minha mãe também parecia surpresa e me olhou, como se pedisse o que falar.
“O que você...” Eu comecei, pronta para dar um discurso sobre como ela devia procurar um psicólogo em breve.
“Tenho certeza que pode ser uma surpresa e tanto.” Demi me cortou, ainda olhando minha mãe, que voltou a olhar para ela. “Mas eu realmente gostei de sua filha, acho que eu poderia aproveitar essa noite para conhecê-la melhor e ver aonde isso vai dar. Prometo que se ela não quiser não apareço na frente dela nunca mais. Mas gostaria de pedir sua autorização antes.”
Minha mãe abriu e fechou a boca várias vezes, antes de suspirar. “Bom, eu não vejo problemas, contanto que a traga antes das 10.”
“Mãe!” Exclamei horrorizada.
“Você precisa sair um pouco, filha. E essa moça parece correta o bastante.”
“Eu não vou simplesmente sair! É um encontro! Com uma mulher!”
“É bom saber que sua visão não foi afetada. Assim você pode ver com clareza as flores que irei levar à sua casa quando te pegar às 7.” Demi falou, sorrindo alegremente.
“O que?! Mas eu não quero ir em um encontro com você!” Exclamei.
“Acho que você deveria me dar uma chance.” Demi falou, dando-me um sorriso sedutor. “Posso te surpreender.” Completou.
“Você já me surpreendeu com essa ideia maluca!” Disse.
“Isso é bom. Se já comecei surpreendendo.” Ela pegou seu celular e estendeu-o para mim. “Anote seu endereço no rascunho e eu passo lá às 7.” Eu me recusei a pegar o celular e ela levantou uma sobrancelha, se divertindo. “Eu posso pedir para sua mãe falar.” Ainda não me mexi. “Ok. Senhora Andrea, pode me passar seu endereço para que eu possa pegar sua filha às 7 e levá-la em um encontro?”
Minha mãe abriu a boca para falar, mas eu peguei o celular e anotei o endereço rapidamente. Por incrível que pareça eu anotei o endereço certo. Demi pegou o celular e leu o endereço em voz alta, apenas para confirmar que eu escrevera certo. Quando minha mãe confirmou, Demi endireitou o corpo, guardou o celular e sorriu de novo.
“Vejo vocês às 7.” E saiu, caminhando lentamente de volta para o salão da igreja.
Apenas uma breve explicação: A inspiração pra essa fanfic quando li a "A CULPA É DAS ESTRELAS", então há várias referências desse livro aqui. Quem não leu, recomendo que leia, pois o livro é perfeito.
Querem quer que eu continue?
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