A Walk To Remember Fayeyoko
Yoko e Faye saíram do cinema de mãos dadas, mas a mais alta sabia que algo estava errado. Yoko ficou quieta durante todo o filme quando normalmente elas não seriam capazes de manter as mãos longe uma da outra.Yoko olhava fixamente para a frente enquanto desciam a rua e Faye apertou sua mão para chamar sua atenção."Eu ainda acho que você manipulou, Yo." Faye brincou, cutucando o ombro de Yoko."Hum? Manipulei o quê?" Yoko perguntou, mas sua mente ainda estava em outro lugar."O sorteio. Quer dizer, não acredito por um segundo que foi apenas coincidência eu ter ganhado os ingressos para o cinema. Acho que alguém queria que eu os ganhasse."Yoko apenas sorriu sem convicção, perdida em seus pensamentos. A resposta vaga decepcionou Faye. Para piorar a situação, Dara e Chai emergiram de uma lanchonete próxima, rindo e conversando. Ao verem o casal, seus sorrisos se apagaram. Elas lançaram olhares para Yoko e Faye, antes de seguirem seu caminho.Faye suspirou, tentando abafar a tensão. "Cidade pequena, né?" Ela disse com um tom despreocupado, mas Yoko permaneceu em silêncio. Faye decidiu que era hora de confrontá-la.Faye parou de andar e puxou sua mão, fazendo Yoko finalmente olhar para ela. Malisorn viu tanta preocupação nos olhos castanhos de Yoko que se sentiu mal por não ter visto antes."O que há de errado? Você está preocupada com as inscrições para a faculdade?"Yoko forçou um sorriso e balançou a cabeça, mas não foi convincente. Então a menor soltou a mão de Faye e entrou em um beco. Faye fazia o possível para manter a calma, mas podia sentir que Yoko estava se afastando. Não havia nada que ela não compartilhasse com Yoko, mas naquele momento parecia que não era mútuo.No beco, Yoko se virou para Faye, os braços cruzados e o corpo trêmulo. A garota mais alta tirou sua jaqueta de couro e a colocou nos ombros de Yoko, oferecendo um pouco de conforto. Ela se aproximou para abraçá-la, mas Yoko gentilmente ergueu a mão em sinal de recusa."Eu-eu não vou me inscrever para a faculdade." Yoko admitiu, evitando contato visual."Eu pensei que você disse-""Não- você presumiu." A resposta de Yoko foi curta e Faye não deixou de perceber o traço de aborrecimento nela."Então, o que fará? Você irá passar um ano no Corpo da Paz?""Não", disse Yoko suavemente, mas exasperada.Faye, um pouco perplexa, passou a mão pelos cabelos. "Então, o que você vai fazer?"Yoko ficou quieta pelo que pareceu uma eternidade."Fa, estou- estou doente." As lágrimas se acumularam no fundo dos seus olhos enquanto ela apertava a jaqueta de Faye contra o corpo.Faye entrelaçou seu dedo mindinho com o de Yoko e tentou puxá-la para mais perto. "Vamos para casa, você vai se sentir melhor amanhã." Ela se aproximou para abraçá-la, mas Yoko recuou mais uma vez."Não. Eu estou doente." A voz de Yoko falhou e a cabeça de Faye começou a girar. Sobre o que Yoko estava falando? Por que ela estava tão chateada? Ela olhou para Yoko em busca de respostas, mas não encontrou nenhuma."Eu tenho leucemia, Faye." As lágrimas nos olhos de Yoko escorreram por seu rosto, mas Faye nem mesmo as viu. Porque isso era uma piada. Uma piada de mau gosto que fez o sangue correr em suas veias.Faye sorriu e deu uma pequena gargalhada, balançando a cabeça. "Não não. Você tem dezoito anos, você é perfeita. Você é... " O final da frase se perdeu quando a respiração deixou os pulmões de Faye e a dormência se instalou. Ela não podia acreditar no que estava ouvindo, então verbalmente, ela rejeitou. Fisicamente, ela rejeitou. Mas, infelizmente, seus olhos ainda funcionavam e eles podiam ver a verdade nos olhos de Yoko, a expressão em seu rosto."Eu descobri no inverno passado. Não estou respondendo ao meu tratamento. Existem outras opções, mas estou ficando sem tempo." Yoko parou para respirar fundo. "As chances estão contra mim."E esse foi o momento. O momento em que o coração de Faye Malisorn se estilhaçou em um milhão de pedaços. Seu rosto se contraiu de dor, angústia e desgosto."Por que você não me contou?" Sua voz carregada de sofrimento."Eu estava tentando viver minha vida o mais normal possível. Eu não queria que ninguém agisse de forma estranha perto de mim!" Mais lágrimas caíram.A sobrancelha de Faye franziu. "Incluindo eu?!" A raiva estava aparente em sua voz."Especialmente você!" Yoko respondeu, ficando com raiva agora. "Sabe, eu estava me dando bem com tudo isso. Tinha aceitado que poderia não sobreviver, que o pior poderia acontecer... Tinha aceitado." Yoko deixou escapar um soluço e desviou o olhar de Faye, como se doesse. "E então você aconteceu."Ela empurrou Faye fracamente em frustração; nem mesmo foi o suficiente para movê-la. Ela desabou sobre a mais alta por um segundo, mas depois se afastou."Você apareceu e agora eu preciso sobreviver. Agora estou com raiva porque provavelmente não vou. Porque só ter meu passado não é mais suficiente. Eu não precisava de um motivo para estar com raiva, mas agora eu tenho um." Então ela se virou e fugiu de Faye, que ainda estava congelada em agonia.Faye queria seguir Yoko, mas ao ver a garota ir embora, ela caiu de joelhos e começou a chorar.
XXX
Ela estava em seu carro, dirigindo ao longo da rodovia. Seu aperto era tão forte no volante que os nós dos dedos estavam brancos. Era tarde e a estrada estava silenciosa, então apenas um ou outro carro passava.Ela dirigiu por uma área suburbana de grandes gramados e mansões imponentes, um mundo distante de sua pequena cidade. Ao chegar a uma placa de pare, ela diminuiu a velocidade e se inclinou para ler o nome da rua ao lado. Com o rosto ainda banhado em lágrimas, ela virou à esquerda.Parando em frente a uma das casas mais elegantes da rua, Faye desligou o motor e saiu do carro, batendo a porta com força. Ao chegar à porta da casa, ela tocou a campainha, esperando pacientemente por dois segundos, antes de tocá-la novamente várias vezes. Sem resposta, ela começou a bater e gritar."Dr. Malisorn! Pai! Abra a porta! POR FAVOR!" Faye tocou a campainha mais algumas vezes, mas sem sucesso. Frustrada, ela se virou e começou a descer o caminho.No meio do caminho, ela ouviu uma voz. "Faye?" Ela se virou e viu seu pai parado na porta, vestindo pijama e esfregando os olhos. "Você está bem? O que aconteceu?"Faye caminhou até ele rapidamente. "Minha namorada, Yoko. Ela está doente, ela tem câncer e você tem que vir vê-la, agora.""Faye, estamos no meio da noite-" Seu pai tentou acalmá-la, mas Faye não queria saber."Eu não dou a mínima para que horas são! Ela está ficando sem tempo!" Ela apertou os punhos com força."Querida, sou cardiologista, não oncologista." Ele falou baixinho, se desculpando."Você é médico, não é?! Ou você vai deixar de ser outra coisa da qual preciso agora também?" Faye não lhe deu chance de responder, pois já tinha ouvido o suficiente. Ela apenas acenou para ele e voltou para o carro."Vou dar uma olhada nisso, Faye!" Ela o ouviu gritar atrás dela, mas precisava ir. Já estava longe de casa há muito tempo e ainda tinha um longo caminho pela frente.Casa, neste caso, significava Yoko.Faye não conseguia entender como tudo isso estava acontecendo. Esta manhã ela havia acordado apaixonada e feliz, com planos para o futuro que incluíam Yoko. Planos que ela tinha feito por causa de Yoko. A jovem Apasra havia dado um futuro a Faye - ou pelo menos um plano e a crença em um - e agora ela poderia nem estar nele.Faye não ligou o rádio do carro. De qualquer forma, não faria diferença. Sua mente estava inundada por imagens de olhos castanhos e um sorriso radiante, bilhetes de rifa e quadros de estrelas. Ela amava muito Yoko e parecia que estava percebendo isso pela primeira vez novamente.E agora ela poderia perdê-la. Não como se perde alguém na multidão ou após uma separação, mas para sempre. Eternamente. Yoko poderia deixar de existir e não haveria como recuperá-la. Faye não poderia salvá-la desta vez; não havia armários para chutar ou rostos para socar. Bem, haveria, mas nada poderia consertar isso. Curar Yoko.
XXX
Faye entrou na cozinha pouco depois do amanhecer. Seus olhos estavam vermelhos e inchados de tanto chorar, e o sono não havia encontrado seu corpo naquela noite. Apesar da exaustão, dormir era a última coisa que ela queria. Dormir significava esquecer, e acordar significava lembrar. Para Faye, não havia nada pior do que despertar feliz após uma noite de sono, apenas para ser confrontada com a dura realidade logo em seguida. No entanto, agora todas as suas realidades dolorosas do passado se tornaram insignificantes em comparação a esta.Com movimentos lentos e automáticos, ela começou a preparar o café. Sua mãe entrou na cozinha, o alívio visível em seu rosto ao vê-la em casa. Faye a encarou sem nenhuma expressão."Seu pai me ligou. Sinto muito, querida. Eu não sabia.""Nem eu.
XXX
Faye se encontrava no canto mais afastado do jardim, próxima à água. Após o café e um banho, ela havia ido à casa de Yoko, percorreu todo o caminho até a varanda, caminhou do lado de fora por alguns minutos e foi embora. Ela não tinha ideia do que dizer. O que fazer.Beliscou a ponta do nariz, tentando encontrar uma resposta."Oi, amiga." A voz de Lux soou por trás dela, e logo ela se aproximou e se posicionou ao lado de Faye. "Sua mãe me ligou."Faye apenas assentiu com a cabeça."Fale comigo, Faye.""Sobre o quê?""Sobre você. Sobre Yoko."Faye olhou para Lux com tristeza antes de voltar a fitar a água. "O que há para dizer, Lux? Ela é a pessoa mais incrível que já conheci. E eu vou perdê-la.""Você não sabe disso." Lux tentou oferecer palavras de conforto.Faye balançou a cabeça. "Você não a viu na noite passada. Nunca a vi tão desesperada, Lux. Ela estava sem força, sem fé.""Talvez ela tenha usado tudo isso em você."Os olhos de Faye se arregalaram com o comentário de Lux, e ela a encarou com a cabeça inclinada. "É o que?""Eu disse - talvez a pequena Apasra tenha usado tudo que ela tinha em você. Talvez ela esteja com muito medo ou raiva para acreditar. Talvez seja a hora de você dar um passo à frente. Tenha um pouco de fé. Seja o que ela não pode ser.""O que fez você virar a fã número um dela?" Faye gritou, sua raiva ganhando. "Culpa?"Lux baixou os olhos. "Eu não entendia. Eu vi, vocês duas. Eu assisti isso acontecer. Eu simplesmente não entendia. Sinto muito, Faye.""Está tudo bem, Lux." Ou estaria, eventualmente.
XXX
Dois dias depois, Faye foi acordada por raios de sol que cruzavam suas cortinas, inundando o quarto com luz.Ela apertou os olhos e viu sua mãe de pé ao lado da cama. "Se você não quiser sair de casa, tudo bem. Mas você precisa levantar." Faye se sentou na cama lentamente. "Vou fazer um café para você."Na cozinha, Faye se sentou à mesa e aceitou o café que sua mãe lhe colocou na frente. Tomando um gole, ela se viu no reflexo da porta do microondas. Cabelo despenteado, olheiras profundas e um rosto abatido. Quase não era ela no reflexo."Você não precisa falar comigo se não quiser, mas por favor, preste atenção no que vou dizer, Faye."Sua mãe estendeu a mão sobre a mesa e a pousou no braço de Faye."Deixe-me ser clara. Não torne isso sobre você. Isso é sobre ela." Sua mãe falou com sensibilidade.Faye estava prestes a responder com raiva, mas então as palavras de sua mãe a atingiram. Ela realmente estava transformando tudo em algo sobre si mesma. Desde aquela noite, ela não havia falado com Yoko. Porque não sabia o que dizer. Porque estava magoada, preocupada e com raiva. Enquanto isso, sua namorada provavelmente estava em casa, com um peso ainda maior sobre seus ombros. Carregando a dor desnecessária que Faye estava causando."Não sei o que dizer a ela, mãe. E se eu disser a coisa errada? Agir da maneira errada? Mais do que já tenho agido?""Acho que você está pensando demais, querida. Seja você mesma. Assim, não haverá nada de errado. Yoko vai te dizer o que precisa." Sua mãe acariciou seu braço suavemente e sorriu.
XXX
Momentos depois, Faye se encontrava na varanda da casa dos Apasra. Desta vez, ela conseguiu tocar a campainha sem hesitar. Não havia mais como fugir.A porta se abriu e o Sr. Apasra a recebeu. "Malisorn.""Onde está a Yoko?""Na escola. Onde você deveria estar." Respondeu ele, sem tom de maldade.Faye acenou com a cabeça e se virou para ir embora, mas ele a segurou pelo ombro. "Sente-se comigo um momento." Ele gesticulou para o balanço da varanda.Faye estava ansiosa para ver Yoko, mas sentou-se mesmo assim."Eu tinha minhas dúvidas sobre você." Ele disse.Faye riu, sem humor. "Não me diga."Ele ignorou o comentário. "Desde que Yoko começou a passar tempo com você, ela ficou mais irritada com tudo - diferente. Mas também está mais feliz do que eu já a vi."Faye sorriu. Então eram duas."Mas nos últimos dias, ela tem estado perturbada. Com o coração partido. Como eu imagino que você também esteja...""Eu não sei o que fazer, reverendo. Eu a amo mais do que jamais amei alguém. Eu não quero perdê-la. Eu não sei o que fazer. Ela me contou e eu a machuquei." Faye começou a soluçar.O reverendo pareceu ponderar as palavras de Faye por um segundo."Seja a Faye por quem minha filha se apaixonou. Se... se ela estiver ficando sem tempo, não a deixe com medo ou com raiva. Deixe que ela passe o tempo amando você. Isso é tudo que ela quer. Se ela sobreviver a isso ou não, é você que ela quer."
XXX
Faye corria pelos corredores da escola, parando em cada porta de sala onde poderia encontrar Yoko. O sinal tocou e os corredores se encheram de alunos. Malisorn tentava lembrar qual era a próxima aula, mas sua mente estava em branco. Ela nem sequer se lembrava do dia da semana.Com os olhos cheios de lágrimas, ela espiou a multidão à procura de Yoko, mas a garota não estava em lugar nenhum. Seguindo em direção ao armário de Apasra, na esperança de encontrá-la lá, Faye virou a esquina e se deparou com Yoko do outro lado do corredor.Yoko congelou ao encontrar o olhar de Faye. Ela segurava seus livros com força, e Malisorn observou a garota que, nos últimos dias, ela sentia uma falta imensa. Ela estava tão envolvida em sua própria dor que, de certa forma, tinha esquecido o quanto amava estar perto de Yoko.Yoko olhou para trás, com o rosto pálido e os olhos vermelhos. Pela primeira vez desde que a conheceu, Faye pensou que Yoko realmente parecia doente. Isso fez seu coração se partir de novo, mas ela prometeu a si mesma que seria forte. Se ela pudesse apenas colocar as pernas para trabalhar e caminhar até Yoko...Quando Faye finalmente reuniu seus nervos, Yoko balançou a cabeça, seus olhos cheios de lágrimas. A expressão da garota era de decepção e mágoa. Ela se virou e voltou pelo caminho que veio, e Faye correu atrás dela, não querendo deixá-la ir embora novamente."Yoko!" Ela a alcançou rapidamente e a garota se virou ao ouvir seu nome. "Me desculpe," Faye disse, sem fôlego. "Eu sou uma covarde.""'Ela vai ligar, pai. Eu sei que ela vai ligar.' Foi o que eu disse a ele. E você não o fez. Você não ligou. Você é uma covarde." Yoko disse, a raiva da outra noite ainda não tinha deixado sua voz.Faye sentiu as lágrimas ameaçando cair e estendeu a mão para Yoko, que se afastou do seu toque. "Yo- eu- eu não vou a lugar nenhum-""Eu tenho que ir para a aula, Faye. Eu não quero uma cena aqui. Por favor." A voz de Yoko estava mais suave agora, e ela parecia prestes a dizer algo mais, mas desistiu. Ela passou por Faye e se dirigiu ao seu armário.
XXX
Faye saiu de seu carro. Ela foi para casa depois de ver Yoko na escola e trabalhou no estofamento do carro para passar o tempo até o fim das aulas, para que ela pudesse ir para a casa de Apasra para tentar novamente.Ao fechar a porta, uma voz atrás dela a fez pular."Eu deveria ter te contado antes." Yoko estava parada ali, parecendo nervosa.Faye olhou para ela e se aproximou, lentamente. "Eu- eu te mantive na rua até muito tarde. Obriguei você a fazer muitas coisas." Sua voz já estava trêmula."Não. Não. Fazer isso provavelmente me mantém saudável por mais tempo, feliz, por mais tempo. Um certo tratamento não funcionou para mim, só isso."Yoko a olhou com tristeza e Faye desviou o olhar por um segundo. "Você está com medo?""Morrendo de medo?" Yoko disse, na pior tentativa de humor que Faye já tinha visto. Os lábios de Faye tremeram e Yoko se aproximou, colocando a mão na barriga de Faye. "É uma piada, Fa, ria."A mandíbula de Malisorn apertou e ela respirou profundamente. "Não é engraçado." Ela disse baixinho, sua voz misturada com desespero. Uma lágrima correu por seu rosto e Yoko a enxugou com o polegar, deixando a mão na bochecha de Faye e acariciando-a. As duas se entreolharam e Yoko, com a mão livre, agarrou a gola da camisa de Faye.Em seguida, a testa de Yoko franziu quando seu rosto ficou sério. Ela puxou a cabeça de Faye para perto da sua, juntando suas testas, e exalou lentamente, como se o toque a acalmasse. Malisorn conhecia a sensação."Eu estou com medo de não estar com você." Yoko confessou, seus olhos se enchendo de lágrimas.Faye se afastou para olhar para ela, seus olhos cheios de compaixão e compreensão. Ela segurou o rosto de Yoko. "Amor, isso nunca vai acontecer. Você vai ficar boa, você pode lutar contra isso." Yoko acenou com a cabeça, inclinando-se em seu toque e deixando as palavras a inundar.
XXX
Ela estava em seu carro, dirigindo ao longo da rodovia. Seu aperto era tão forte no volante que os nós dos dedos estavam brancos. Era tarde e a estrada estava silenciosa, então apenas um ou outro carro passava.Ela dirigiu por uma área suburbana de grandes gramados e mansões imponentes, um mundo distante de sua pequena cidade. Ao chegar a uma placa de pare, ela diminuiu a velocidade e se inclinou para ler o nome da rua ao lado. Com o rosto ainda banhado em lágrimas, ela virou à esquerda.Parando em frente a uma das casas mais elegantes da rua, Faye desligou o motor e saiu do carro, batendo a porta com força. Ao chegar à porta da casa, ela tocou a campainha, esperando pacientemente por dois segundos, antes de tocá-la novamente várias vezes. Sem resposta, ela começou a bater e gritar."Dr. Malisorn! Pai! Abra a porta! POR FAVOR!" Faye tocou a campainha mais algumas vezes, mas sem sucesso. Frustrada, ela se virou e começou a descer o caminho.No meio do caminho, ela ouviu uma voz. "Faye?" Ela se virou e viu seu pai parado na porta, vestindo pijama e esfregando os olhos. "Você está bem? O que aconteceu?"Faye caminhou até ele rapidamente. "Minha namorada, Yoko. Ela está doente, ela tem câncer e você tem que vir vê-la, agora.""Faye, estamos no meio da noite-" Seu pai tentou acalmá-la, mas Faye não queria saber."Eu não dou a mínima para que horas são! Ela está ficando sem tempo!" Ela apertou os punhos com força."Querida, sou cardiologista, não oncologista." Ele falou baixinho, se desculpando."Você é médico, não é?! Ou você vai deixar de ser outra coisa da qual preciso agora também?" Faye não lhe deu chance de responder, pois já tinha ouvido o suficiente. Ela apenas acenou para ele e voltou para o carro."Vou dar uma olhada nisso, Faye!" Ela o ouviu gritar atrás dela, mas precisava ir. Já estava longe de casa há muito tempo e ainda tinha um longo caminho pela frente.Casa, neste caso, significava Yoko.Faye não conseguia entender como tudo isso estava acontecendo. Esta manhã ela havia acordado apaixonada e feliz, com planos para o futuro que incluíam Yoko. Planos que ela tinha feito por causa de Yoko. A jovem Apasra havia dado um futuro a Faye - ou pelo menos um plano e a crença em um - e agora ela poderia nem estar nele.Faye não ligou o rádio do carro. De qualquer forma, não faria diferença. Sua mente estava inundada por imagens de olhos castanhos e um sorriso radiante, bilhetes de rifa e quadros de estrelas. Ela amava muito Yoko e parecia que estava percebendo isso pela primeira vez novamente.E agora ela poderia perdê-la. Não como se perde alguém na multidão ou após uma separação, mas para sempre. Eternamente. Yoko poderia deixar de existir e não haveria como recuperá-la. Faye não poderia salvá-la desta vez; não havia armários para chutar ou rostos para socar. Bem, haveria, mas nada poderia consertar isso. Curar Yoko.
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Faye entrou na cozinha pouco depois do amanhecer. Seus olhos estavam vermelhos e inchados de tanto chorar, e o sono não havia encontrado seu corpo naquela noite. Apesar da exaustão, dormir era a última coisa que ela queria. Dormir significava esquecer, e acordar significava lembrar. Para Faye, não havia nada pior do que despertar feliz após uma noite de sono, apenas para ser confrontada com a dura realidade logo em seguida. No entanto, agora todas as suas realidades dolorosas do passado se tornaram insignificantes em comparação a esta.Com movimentos lentos e automáticos, ela começou a preparar o café. Sua mãe entrou na cozinha, o alívio visível em seu rosto ao vê-la em casa. Faye a encarou sem nenhuma expressão."Seu pai me ligou. Sinto muito, querida. Eu não sabia.""Nem eu.
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Faye se encontrava no canto mais afastado do jardim, próxima à água. Após o café e um banho, ela havia ido à casa de Yoko, percorreu todo o caminho até a varanda, caminhou do lado de fora por alguns minutos e foi embora. Ela não tinha ideia do que dizer. O que fazer.Beliscou a ponta do nariz, tentando encontrar uma resposta."Oi, amiga." A voz de Lux soou por trás dela, e logo ela se aproximou e se posicionou ao lado de Faye. "Sua mãe me ligou."Faye apenas assentiu com a cabeça."Fale comigo, Faye.""Sobre o quê?""Sobre você. Sobre Yoko."Faye olhou para Lux com tristeza antes de voltar a fitar a água. "O que há para dizer, Lux? Ela é a pessoa mais incrível que já conheci. E eu vou perdê-la.""Você não sabe disso." Lux tentou oferecer palavras de conforto.Faye balançou a cabeça. "Você não a viu na noite passada. Nunca a vi tão desesperada, Lux. Ela estava sem força, sem fé.""Talvez ela tenha usado tudo isso em você."Os olhos de Faye se arregalaram com o comentário de Lux, e ela a encarou com a cabeça inclinada. "É o que?""Eu disse - talvez a pequena Apasra tenha usado tudo que ela tinha em você. Talvez ela esteja com muito medo ou raiva para acreditar. Talvez seja a hora de você dar um passo à frente. Tenha um pouco de fé. Seja o que ela não pode ser.""O que fez você virar a fã número um dela?" Faye gritou, sua raiva ganhando. "Culpa?"Lux baixou os olhos. "Eu não entendia. Eu vi, vocês duas. Eu assisti isso acontecer. Eu simplesmente não entendia. Sinto muito, Faye.""Está tudo bem, Lux." Ou estaria, eventualmente.
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Dois dias depois, Faye foi acordada por raios de sol que cruzavam suas cortinas, inundando o quarto com luz.Ela apertou os olhos e viu sua mãe de pé ao lado da cama. "Se você não quiser sair de casa, tudo bem. Mas você precisa levantar." Faye se sentou na cama lentamente. "Vou fazer um café para você."Na cozinha, Faye se sentou à mesa e aceitou o café que sua mãe lhe colocou na frente. Tomando um gole, ela se viu no reflexo da porta do microondas. Cabelo despenteado, olheiras profundas e um rosto abatido. Quase não era ela no reflexo."Você não precisa falar comigo se não quiser, mas por favor, preste atenção no que vou dizer, Faye."Sua mãe estendeu a mão sobre a mesa e a pousou no braço de Faye."Deixe-me ser clara. Não torne isso sobre você. Isso é sobre ela." Sua mãe falou com sensibilidade.Faye estava prestes a responder com raiva, mas então as palavras de sua mãe a atingiram. Ela realmente estava transformando tudo em algo sobre si mesma. Desde aquela noite, ela não havia falado com Yoko. Porque não sabia o que dizer. Porque estava magoada, preocupada e com raiva. Enquanto isso, sua namorada provavelmente estava em casa, com um peso ainda maior sobre seus ombros. Carregando a dor desnecessária que Faye estava causando."Não sei o que dizer a ela, mãe. E se eu disser a coisa errada? Agir da maneira errada? Mais do que já tenho agido?""Acho que você está pensando demais, querida. Seja você mesma. Assim, não haverá nada de errado. Yoko vai te dizer o que precisa." Sua mãe acariciou seu braço suavemente e sorriu.
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Momentos depois, Faye se encontrava na varanda da casa dos Apasra. Desta vez, ela conseguiu tocar a campainha sem hesitar. Não havia mais como fugir.A porta se abriu e o Sr. Apasra a recebeu. "Malisorn.""Onde está a Yoko?""Na escola. Onde você deveria estar." Respondeu ele, sem tom de maldade.Faye acenou com a cabeça e se virou para ir embora, mas ele a segurou pelo ombro. "Sente-se comigo um momento." Ele gesticulou para o balanço da varanda.Faye estava ansiosa para ver Yoko, mas sentou-se mesmo assim."Eu tinha minhas dúvidas sobre você." Ele disse.Faye riu, sem humor. "Não me diga."Ele ignorou o comentário. "Desde que Yoko começou a passar tempo com você, ela ficou mais irritada com tudo - diferente. Mas também está mais feliz do que eu já a vi."Faye sorriu. Então eram duas."Mas nos últimos dias, ela tem estado perturbada. Com o coração partido. Como eu imagino que você também esteja...""Eu não sei o que fazer, reverendo. Eu a amo mais do que jamais amei alguém. Eu não quero perdê-la. Eu não sei o que fazer. Ela me contou e eu a machuquei." Faye começou a soluçar.O reverendo pareceu ponderar as palavras de Faye por um segundo."Seja a Faye por quem minha filha se apaixonou. Se... se ela estiver ficando sem tempo, não a deixe com medo ou com raiva. Deixe que ela passe o tempo amando você. Isso é tudo que ela quer. Se ela sobreviver a isso ou não, é você que ela quer."
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Faye corria pelos corredores da escola, parando em cada porta de sala onde poderia encontrar Yoko. O sinal tocou e os corredores se encheram de alunos. Malisorn tentava lembrar qual era a próxima aula, mas sua mente estava em branco. Ela nem sequer se lembrava do dia da semana.Com os olhos cheios de lágrimas, ela espiou a multidão à procura de Yoko, mas a garota não estava em lugar nenhum. Seguindo em direção ao armário de Apasra, na esperança de encontrá-la lá, Faye virou a esquina e se deparou com Yoko do outro lado do corredor.Yoko congelou ao encontrar o olhar de Faye. Ela segurava seus livros com força, e Malisorn observou a garota que, nos últimos dias, ela sentia uma falta imensa. Ela estava tão envolvida em sua própria dor que, de certa forma, tinha esquecido o quanto amava estar perto de Yoko.Yoko olhou para trás, com o rosto pálido e os olhos vermelhos. Pela primeira vez desde que a conheceu, Faye pensou que Yoko realmente parecia doente. Isso fez seu coração se partir de novo, mas ela prometeu a si mesma que seria forte. Se ela pudesse apenas colocar as pernas para trabalhar e caminhar até Yoko...Quando Faye finalmente reuniu seus nervos, Yoko balançou a cabeça, seus olhos cheios de lágrimas. A expressão da garota era de decepção e mágoa. Ela se virou e voltou pelo caminho que veio, e Faye correu atrás dela, não querendo deixá-la ir embora novamente."Yoko!" Ela a alcançou rapidamente e a garota se virou ao ouvir seu nome. "Me desculpe," Faye disse, sem fôlego. "Eu sou uma covarde.""'Ela vai ligar, pai. Eu sei que ela vai ligar.' Foi o que eu disse a ele. E você não o fez. Você não ligou. Você é uma covarde." Yoko disse, a raiva da outra noite ainda não tinha deixado sua voz.Faye sentiu as lágrimas ameaçando cair e estendeu a mão para Yoko, que se afastou do seu toque. "Yo- eu- eu não vou a lugar nenhum-""Eu tenho que ir para a aula, Faye. Eu não quero uma cena aqui. Por favor." A voz de Yoko estava mais suave agora, e ela parecia prestes a dizer algo mais, mas desistiu. Ela passou por Faye e se dirigiu ao seu armário.
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Faye saiu de seu carro. Ela foi para casa depois de ver Yoko na escola e trabalhou no estofamento do carro para passar o tempo até o fim das aulas, para que ela pudesse ir para a casa de Apasra para tentar novamente.Ao fechar a porta, uma voz atrás dela a fez pular."Eu deveria ter te contado antes." Yoko estava parada ali, parecendo nervosa.Faye olhou para ela e se aproximou, lentamente. "Eu- eu te mantive na rua até muito tarde. Obriguei você a fazer muitas coisas." Sua voz já estava trêmula."Não. Não. Fazer isso provavelmente me mantém saudável por mais tempo, feliz, por mais tempo. Um certo tratamento não funcionou para mim, só isso."Yoko a olhou com tristeza e Faye desviou o olhar por um segundo. "Você está com medo?""Morrendo de medo?" Yoko disse, na pior tentativa de humor que Faye já tinha visto. Os lábios de Faye tremeram e Yoko se aproximou, colocando a mão na barriga de Faye. "É uma piada, Fa, ria."A mandíbula de Malisorn apertou e ela respirou profundamente. "Não é engraçado." Ela disse baixinho, sua voz misturada com desespero. Uma lágrima correu por seu rosto e Yoko a enxugou com o polegar, deixando a mão na bochecha de Faye e acariciando-a. As duas se entreolharam e Yoko, com a mão livre, agarrou a gola da camisa de Faye.Em seguida, a testa de Yoko franziu quando seu rosto ficou sério. Ela puxou a cabeça de Faye para perto da sua, juntando suas testas, e exalou lentamente, como se o toque a acalmasse. Malisorn conhecia a sensação."Eu estou com medo de não estar com você." Yoko confessou, seus olhos se enchendo de lágrimas.Faye se afastou para olhar para ela, seus olhos cheios de compaixão e compreensão. Ela segurou o rosto de Yoko. "Amor, isso nunca vai acontecer. Você vai ficar boa, você pode lutar contra isso." Yoko acenou com a cabeça, inclinando-se em seu toque e deixando as palavras a inundar.
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